segunda-feira, 28 de abril de 2008

Uma aposta feminina


Uma aposta feminina
Aumenta o número de mulheres nas franquias, segmento que já bateu recorde de faturamento e promete crescer mais
Ciça Vallerio - O Estado de S.Paulo

SÃO PAULO - Cada vez mais mulheres investem em franquias, seja pela facilidade de se associar a uma marca consolidada, minimizando os riscos, ou pela rapidez de implantação do negócio. A participação feminina (entre 30% e 35%) ainda é menor do que a masculina, mas, nos últimos quatro anos, houve um crescimento de 20% nesse porcentual, de acordo com dados da Sociedade Brasileira de Franchising (ABF). O sistema de franquias bateu recorde de faturamento no ano passado, com R$ 46 bilhões - aumento de 15,6% em relação a 2006. Estima-se que, em 2008, os números subam ainda mais, alcançando um crescimento em torno de 8% a 9%.Histórias de mulheres que mudaram suas vidas com esse tipo de investimento não faltam. Por trás do sucesso, no entanto, há muito trabalho e dedicação. Ou seja, não basta esperar sentada o dinheiro brotar. Elizabeth Moreira, de 52 anos, teve até de sair pelas ruas, distribuindo panfletos, quando abriu uma franquia da escola Seven Idiomas. "Conhecer o bairro é muito importante, assim como freqüentar academias, cabeleireiros, escolas de música, colégios, etc., para conversar com as pessoas e oferecer o serviço", aconselha Elizabeth. A trabalheira toda rendeu frutos. Ela e sua sócia Cristiane Harumi, de 41 anos, fizeram o negócio prosperar. Agora são donas de uma escola na Vila Mariana, com 400 alunos, e outra na Vila Leopoldina, inaugurada no fim do ano passado, com 150 alunos. Para quem deseja abrir uma franquia, a identificação com o tipo de negócio é a primeira recomendação da ABF e de consultores de franchising, como Marcus Rizzo. "Não basta apenas gostar de comer pizza, mas também de prepará-la, colocar a mão na massa literalmente", observa. "O importante é se interessar tanto pelo produto como pela operação do negócio." Muita gente, porém, esquece de levar em conta o que está atrás do balcão. No caso da pizza, para se ter uma idéia, o futuro franqueado deve ficar atento à rotina que vai encarar, como levantar cedo para comprar ingredientes, coordenar funcionários e gerenciar toda a parte burocrática. As sócias Elizabeth e Cristiane, por exemplo, davam aulas de inglês na própria escola de idiomas. Quando surgiu a oportunidade de terem seu próprio negócio, não hesitaram em apostar no ramo de que gostavam: educação. "Como fomos professoras e coordenadoras, nos apaixonamos pelo método e seriedade do ensino, além do cuidado com a capacitação profissional", lembra Cristiane. Sobre os dividendos, contam que, hoje, conseguem tirar um pouco mais do que ganhavam como contratadas. O resto vai para um fundo de poupança. Foi economizando que ambas conseguiram abrir a segunda franquia, sem financiamento de banco. De acordo com dados da Rizzo Franchise - empresa que realiza pesquisas sobre mercado de varejo e franquias de todo o Brasil -, numa mostra de 200 donos de empresas que vendem franquias, 73% acham que as mulheres possuem padrão operacional 45% maior do que o dos homens. Traduzindo, a ala feminina consegue manter com maior fidelidade os padrões estabelecidos nos manuais das marcas, relacionados à apresentação do ponto, produto, gestão e atendimento da freguesia. Por levarem mais à risca as regras, elas faturam 30% mais do que os homens. COMPETÊNCIAS FEMININASPara o consultor Marcus Rizzo, duas boas razões justificam o melhor desempenho feminino. Primeiro, elas são menos arrogantes: enquanto dizem "eu quero saber" e estão mais dispostas a acertar, eles falam "eu já sei". Segundo, são menos autoritárias, por isso, têm maior facilidade para formar equipes e lidar com pessoas. O diretor executivo da ABF, Ricardo Camargo, só faz elogios. "Embora exista aquela idéia negativa de que mulher não sabe fazer conta, a realidade é outra", diz. "Hoje, elas assumem todo o gerenciamento, incluindo a contabilidade, e se destacam também por serem mais dedicadas ao negócio, observadoras de detalhes e por receberem sempre os clientes com sorriso no rosto. No comércio, esses diferenciais fazem toda a diferença." Não basta, porém, ter tantas qualidades se a escolha do produto e marca não for consciente e racional. Heide Zamboni, de 66 anos, caiu em uma fria quando apostou todas as suas economias em uma "malfadada" - como costuma dizer, mas sem revelar o nome - franquia de agência de turismo. "Sonhava em trabalhar com a minha paixão, que é viajar", lembra a empresária. "Como executiva de uma grande empresa de cosmético, pude conhecer muitos lugares do mundo. Acabei optando pela praticidade de uma franquia. O problema foi confiar demais na pessoa, sem avaliar bem o contrato, checar a idoneidade da empresa e consultar a ABF. Por isso, tive de agüentar três anos até vencer o contrato. Só depois disso que me desfiz do engodo."Nesse período, Heide enfrentou, entre muitas dificuldades, as falcatruas da franqueadora, que não repassava comissão, omitia informação, ameaçava, entre outros golpes. Como ela, muitos colegas dessa mesma franquia perderam dinheiro e alguns estão até hoje brigando na Justiça pelo ressarcimento do que aplicaram no negócio. Em vez de ter chorado pelo mau investimento, Heide encarou tudo como uma oportunidade de aprendizado. Fez das tripas o coração para conseguir tocar a franquia, sem prejudicar clientes. Depois que conseguiu se livrar do "engodo", Heide deu a volta por cima. Em 2001, abriu sua própria agência de turismo, a Pax Voyage, e muitos de seus colegas franqueados tornaram-se os seus novos investidores. Hoje, a marca conta com 51 unidades espalhadas pelo Brasil e tem como sócia sua filha Márcia. Até junho, inaugura uma franquia na cidade de Osaka, no Japão, e outra em Roma, Itália. No final deste mês, Heide receberá em São Paulo o Troféu Marketing & Negócios Internacional, promovido pela Associação dos Empresários do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mercosul, na categoria Destaque Empresarial do Ano. É a redenção da empresária que, depois do sufoco, se filiou à ABF.

fonte:http://www.estadao.com.br/suplementos/not_sup159758,0.htm

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